1.10.08

Casas... em Setembro.

Depois das notícias menos abonatórias dos últimos dias envolvendo o nome de Baptista-Bastos no caso dos arrendamentos de casas em Lisboa, deixo aqui um abraço fraterno a um homem que sempre pautou a vida e o trabalho por um comportamento íntegro. Mais do que culpado, neste processo parece-me que BB acabou por ser "inocente".

Aqui ficam, pois, excertos de uma carta que lhe enviei há semanas.


Camarada Baptista-Bastos,
(Trato-te assim mesmo, por tu. Como Costa Neves diria e tu me ensinaste, colegas são as putas. E nós, os jornalistas, só nos podemos tratar por camaradas)


Pensava conhecer-te há uns anos, mas confesso que só te conhecia a fama de grande jornalista. Foi só há uns meses, quando comprei numa feira de livros antigos uma edição de "As Palavras dos Outros", essa autêntica bíblia do jornalismo português, que mergulhei no teu universo. Agora, sim, posso dizer que já conheço alguma coisa de ti. Um bocadinho mais depois de terminar há dias de ler o "Bicicletas em Setembro". Levo-te, na forma mágica de um livro, comigo para todo o lado: viajas no comboio para a minha terra-natal, apanhas sol na minha praia fria do Norte, vamos ao teatro e ao cinema, vais trabalhar e de férias comigo.

O texto do Costa Neves e da estagiária, "Um cravo para o Costa Neves", que relatas no teu livro “A cara de gente”, era aquele que eu, se o talento como o teu me corresse nas veias e na pena, gostaria de ter escrito para ti. Porque "no solfejo da imprensa" tu também conheces todas as notas e tocas todas as melodias. Porque "na heráldica do ofício" também o nome de Baptista-Bastos figura num brasão resplandescente. Porque "na cartografia dos meus afectos", também tu, meu estimado Baptista-Bastos, te revelas na recordação de extraordinários textos jornalísticos, na restituição de episódios, na memória de frases inesquecíveis ou de pequenos gestos de bravura.

Tenho orgulho em ser jornalista, ou noticiarista como referes no início d' "As Palavras dos Outros", por ser uma profissão (e ela é muito mais do que isso...) exercida com paixão e rectidão de carácter por homens como tu. E luto diariamente por sê-lo de forma cada vez mais completa e com uma marca competente, honesta e frontal. Porque escolhi com frontalidade e espírito de missão "o martírio que é a vida de quem morre a viver nos jornais".

Volto a socorrer-me de ti, que existes pelas palavras, para esta despedida.
"Continuamos a aceitar as punições e a ser fiéis aos nossos pecados. Nesse instante, nesses tímidos instantes, somos dois homens felizes. Vamos beber um copo?".

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