1.8.08

A definhar até à morte.


Foto: Paulo Ricca (Público)


“O Primeiro de Janeiro” chegou ao fim. Se será um fim definitivo ou de um ciclo só a história que está por vir irá determinar. Após 140 anos de publicação diária, este jornal do Porto - que já foi nacional - vai parar, pelo menos, durante o mês de Agosto. A especulação sobre o tema é inevitável, sobretudo pelas dificuldades que a sociedade que detém o título vinha demonstrando em cumprir, a tempo e horas, com o pagamento dos ordenados aos jornalistas e colaboradores. E por tudo aquilo - incluindo muito desrespeito - que os atrasos representavam na vida dos profissionais honrados que ali trabalhavam.

A morte lenta é a mais dolorosa e essa era indisfarçável há já algum tempo. O jornalismo é em parte um negócio como todos os outros e, não sendo rentável, está condenado à extinção. Era por demais evidente que aquele jornal – onde ainda tive a honra de trabalhar durante quatro meses, apesar de não lhe poder chamar, nem de perto nem de longe, uma das minhas escolas de jornalismo – começara a definhar. Em qualidade, em motivação e em profissionalismo.

Perante o arrastar da situação, o declarar diário da tal morte lenta, apesar das dificuldades e de nem tudo estar nas suas mãos, o que fizeram os seus jornalistas, editores, direcção? Nada. Deixaram andar, na esperança que algum dia iria surgir um salvador disposto a pagar pela sobrevivência de um jornal em decadência progressiva. Virou-se a cara à luta pela renovação e melhoramento dos conteúdos, não se exigiu mais, cada um de si e dos companheiros de redacção. Por que motivo alguém passaria a comprar o "Janeiro", não fosse por carinho ou simpatia?

Senti tristeza com a esperada certidão de óbito do jornal, sobretudo pelos meus companheiros jornalistas que ontem tiveram que encaixotar agendas, papéis e dossiers e assistir à troca das fechaduras, segundo li. Mas parecia que ninguém se importava com isso de ter o jornal a sobreviver apenas como pouco mais do que um amontoado de páginas e papel. “Isso são coisas dos gestores”, pensava-se. Mas é pelos e com os homens que se mudam as organizações, acima do capital ou das influências. Era possível fazer muito, muito melhor, mas nunca se quis. Por (muito) comodismo, (alguma) incompetência e, sobretudo, pela falta de visão estratégica sobre o que é um jornalismo moderno e competitivo, relevante.

Não acredito em milagres, portanto este era um daqueles mistérios que estava mais do que evidente aos olhos do mais básico dos homens lúcidos. Desprezo as teorias de que o “senhores de Lisboa” é que são os culpados, que as grandes empresas que compram espaços de publicidade e fazem sobreviver os jornais estão todas na capital. A morte lenta do “Janeiro” vai continuar, mesmo se o título regressar à vida. Não é lavando a cara e deixando tudo o resto na mesma que se ganha vitalidade.

O “Janeiro” afunda-se nas mesmas águas em que se afunda o Porto: falta de auto-estima e de força para se renovar, ausência de massa crítica e espírito empreendedor. Não sair da caverna do passado e passar a olhar a realidade do mundo de hoje, vibrante lá fora, tão diferente e tão mais complexo.

2 comments:

Ana said...

E a manchete de hoje?
(...)
»Economia do Norte em curva ascendente»

Anonymous said...

Tomei a liberdade de te linkar a partir de um novo (novo mesmo, porque começou hoje) projecto que tenho, uma espécie de Courrier Internacional para pobres :P
Cá vai: http://webnoticias.net/?p=73
Abraço