28.8.08

Se não tiver servido para mais nada, pelo menos estes Jogos Olímpicos ensinaram aos portugueses que Pequim e Beijing são a mesma coisa.

[várias pessoas me vieram perguntar o que era, afinal, aquela coisa do Beijing que aparecia no logotipo dos Jogos de Pequim...]

23.8.08


Não é todos os dias que se leva uma irmã ao altar...
Parabéns, Su!
*Foto: Festa das Cruzes, Barcelos. Maio'1986.

13.8.08

Acrescentei nos links aqui ao lado, a página pessoal de um velho amigo basco que conheci num curso de italiano que fiz em Agosto de 2004 em Siena. Encontramo-nos um ano depois durante o nosso Erasmus, que eu fiz em Parma e ele em Bologna. Hoje, o Yuri, o prometedor rapaz que estudava ciência política, é assessor de imagem e comunicação da área da política. Criou com sucesso a sua própria empresa de 'media training', e por estes dias, anda por El Salvador, na América Central, onde está a preparar a estratégia para as eleições presidenciais de Março do próximo ano. Bravo, Yuri!

8.8.08

Ao Yun Hui Kuaile!


A chegada a Pequim são versos de um poema que não rima com facilidades: no moderníssimo aeroporto internacional de Pequim sou arrastado em direcção ao parque de estacionamento para apanhar um táxi privado para o hotel, onde nenhum dos quatro recepcionistas articula uma frase no (julga o resto do mundo) universal inglês; nos primeiros banhos revigoro a pele com amaciador de roupa convencido que se trata de gel de banho; vou ao supermercado e compro um garrafão de cinco litros de aguardente satisfeito por pensar levar para casa água mineral. Não são suficientes vinte anos de uma proclamada “política de abertura e reformas” - que abriu às multinacionais de todo o mundo as portas de um apetecível mercado interno de 1,3 mil milhões de consumidores e injectou incontáveis dólares e euros nas veias de uma economia que se prepara para ultrapassar a Alemanha no terceiro posto do ranking dos monstros económicos mundiais – não são suficientes essas migalhas do tempo que são duas décadas, dizíamos, para o rectilíneo, lógico e previsível mundo ocidental compreender e abraçar a velha e misteriosa China. Uma nação ancestral que sobreviveu ao poderoso exército mongol, não vergou perante as invasões dos vizinhos e inimigos japoneses, nem a pragas e catástrofes devastadoras, e que já vivia 16 séculos antes de Cristo nascer nas palhinhas de Belém.

Mas é esta mesma China, comunista de forma, que já não destrói sofás como outrora – o outrora em que eram considerados mobiliário burguês – e em que às crianças já não se ensina que o inglês é a língua imperalista e elas brindam cada estrangeiro com um estridente “hello”, esta China que se reflecte todos os dias no espelho do mandarim como Império do Meio (Zhong Guo) e que ensaia um “sistema capitalista de características chinesas” (designação oficial do socialismo arquitectado no final dos anos 80 por Deng Xiaoping), é ela que se quer mostrar ao mundo nestes Jogos Olímpicos. A China que se engalanou e preparou afincada e meticulosamente desde 2001, que reconstruiu bastante e reconfigurou ainda mais a sua cidade mais importante, o orgulho e símbolo de todo o império amarelo, apenas com a missão de dar corpo a um evento desportivo internacional que irá durar 16 efémeros dias. Os seus “Ao Yun Hui”, formados pelas iniciais das “palavras” olímpico, desporto e encontro.

À semelhança de uma embalagem de amaciador de roupa, ainda que vendida numa loja do francês “Jia Le Fu” (leia-se Carrefour), em que o rótulo não permite compreender coisa alguma aos olhos que não identificam mais do que os caracteres de “Bei Jing” (capital do norte), também a China só mostra o seu verdadeiro interior e o seu puro conteúdo após a abertura da “embalagem”. Ao chegar sente-se um estranho nó aspero na garganta, como se se tivesse bebido água por uma mangueira de gasolina. É a poluição, dizem, numa cidade onde quem fuma um maço de cigarros contabiliza 90 cigarros nos pulmões ao final do dia, pois 70 ficam por conta da poluição carburada pelos milhares de fábricas que ocupam os arrabaldes sujos e terceiro-mundistas da capital chinesa e pelos milhões de automóveis que entopem as largas e modernas avenidas de Pequim, as mesmas que fazem corar de vergonha a feita estreita Avenida da Liberdade lisboeta.

Primeiro aviso: tem que se corresponder a todos os brindes de “bai jiu”, uma indescritivelmente forte aguardente feita à base de arroz, bebida com que se festeja tudo na China, desde casamentos ao fecho de um negócio. Nem que no final do almoço do casamento, festejado numa sala de hotel com “wedding” escrito a letras rosa no fundo do palco, se acabe embriegado, consequência do ‘jet lag’, pois claro, a passear junto ao túmulo de Mao Zedong, em plena praça Tiananmen, o centro político de toda a China. Segundo aviso: só se come a tijela de arroz no final da refeição, é só para encher a barriga. Desta vez fica mesmo o insulto aos dotes da cozinheira, a mesma que preparou uns rugosos intestinos de pato e que depois veio à mesa explicar que o chumbinho encontrado entre a carne dos dumplings era “uma peça que se soltou da varinha mágica”. É tempo de mostrar compreensão: apesar deste autêntico país-continente ter submetido as suas cidades a verdadeiras operações plásticas nos últimos anos, “perder a face” continua a ser a pior desonra para um chinês. E ainda que seja perdoado, nunca é esquecido. Concedemos.

A China política, liderada com punho de ferro por Hu Jintao na presidência e Wen Jiabao no governo, aproveita as Olimpíadas abre ao mundo as janelas de uma cidade desenhada e sombreada pelo declive acentuado entre os arranha-céus que crescem, os arrojados projectos arquitectónicos que aqui têm liberdade para florescer e os antiquíssimos “hutong”, os bairros típicos recuperados no centro de Pequim que vergam à especulação imobiliária e vão sendo comprados por muitos estrangeiros, que para eles têm dinheiro. Todavia, um em cada cinco habitantes do planeta – a estatística permite tudo isto - já conhecem esta realidade, pelo que os Jogos são, antes de mais, uma legitimição do Partido Comunista Chinês no poder aos olhos de 1,3 mil milhões de eleitores sem direito de voto. Uma legião que olha com distanciamento para a fotografia amarelecida da Nova China fundada a 1 de Outubro de 1949 pelo Grande Timoneiro Mao Zedong. Onde subiu pela primeira vez a bandeira vermelha-estrelada, hoje apenas os turistas compram o pequenino Livro Vermelho com as citações e as teorias de Mao, as dele e as que roubou aos companheiros da Longa Marcha, que aniquilou para se assumir como figura máxima na refundação do país. A 30 quilómetros de Tiananmen, para lá do sexto dos anéis rodoviários que circundam Pequim, o restaurante “O Leste é Vermelho” recria num enorme pavilhão o ambiente da Revolução Cultural. Há um espectáculo de época com muitas bandeiras vermelhas, a decoração é recuperada ao pormenor, os sabores da comida fazem também recuar umas décadas, os empregados vestem os trajes recuperados, à imagem da juventude maoísta que engrossou o exército vermelho. Em 2008, ano dos Jogos Olímpicos em Pequim, tudo isto é “kitsch”, tudo isto é o espelho da sociedade chinesa que emerge nas grandes cidades do país, tão ou mais cosmopolitas do que as grandes capitais da Europa. Uma sociedade competitiva e pragmática, que veste Hugo Boss e ouve no iPod os últimos hits da pop norte-americana.
Quando, a 24 de Agosto, cair o pano dos Olímpicos, nenhum chinês questionará para que serviram os 11 mil milhões orçamentados para limpar o ar da cidade. Os trabalhadores migrantes das províncias mais recônditas, que ajudaram a erguer a cidade olímpica e foram expulsos de Pequim algumas semanas antes da cerimónia de abertura, voltarão para continuar a construir a capital. E o Nan Jie, um famoso bar entre os “laowai”, como os pequinenses chamam aos estrangeiros que vivem na cidade e que foram também obrigados a abandoná-la durante os Jogos, vai voltar a encher-se quando as autoridades retomarem a concessão de vistos para entrar no país. Pelo menos até o Nan Jie ser demolido uma terceira vez, como das outras vezes para ali se construir mais uma urbanização de prédios altos e modernos. Por aquelas janelas espelhadas, a grande cidade-sede olímpica continuará a espreitar, vibrante e irresistível, embrenhada naquela misteriosa e quase imperial cortina cinzenta.


Texto (não editado) publicado hoje no Jornal de Negócios.

1.8.08

A definhar até à morte.


Foto: Paulo Ricca (Público)


“O Primeiro de Janeiro” chegou ao fim. Se será um fim definitivo ou de um ciclo só a história que está por vir irá determinar. Após 140 anos de publicação diária, este jornal do Porto - que já foi nacional - vai parar, pelo menos, durante o mês de Agosto. A especulação sobre o tema é inevitável, sobretudo pelas dificuldades que a sociedade que detém o título vinha demonstrando em cumprir, a tempo e horas, com o pagamento dos ordenados aos jornalistas e colaboradores. E por tudo aquilo - incluindo muito desrespeito - que os atrasos representavam na vida dos profissionais honrados que ali trabalhavam.

A morte lenta é a mais dolorosa e essa era indisfarçável há já algum tempo. O jornalismo é em parte um negócio como todos os outros e, não sendo rentável, está condenado à extinção. Era por demais evidente que aquele jornal – onde ainda tive a honra de trabalhar durante quatro meses, apesar de não lhe poder chamar, nem de perto nem de longe, uma das minhas escolas de jornalismo – começara a definhar. Em qualidade, em motivação e em profissionalismo.

Perante o arrastar da situação, o declarar diário da tal morte lenta, apesar das dificuldades e de nem tudo estar nas suas mãos, o que fizeram os seus jornalistas, editores, direcção? Nada. Deixaram andar, na esperança que algum dia iria surgir um salvador disposto a pagar pela sobrevivência de um jornal em decadência progressiva. Virou-se a cara à luta pela renovação e melhoramento dos conteúdos, não se exigiu mais, cada um de si e dos companheiros de redacção. Por que motivo alguém passaria a comprar o "Janeiro", não fosse por carinho ou simpatia?

Senti tristeza com a esperada certidão de óbito do jornal, sobretudo pelos meus companheiros jornalistas que ontem tiveram que encaixotar agendas, papéis e dossiers e assistir à troca das fechaduras, segundo li. Mas parecia que ninguém se importava com isso de ter o jornal a sobreviver apenas como pouco mais do que um amontoado de páginas e papel. “Isso são coisas dos gestores”, pensava-se. Mas é pelos e com os homens que se mudam as organizações, acima do capital ou das influências. Era possível fazer muito, muito melhor, mas nunca se quis. Por (muito) comodismo, (alguma) incompetência e, sobretudo, pela falta de visão estratégica sobre o que é um jornalismo moderno e competitivo, relevante.

Não acredito em milagres, portanto este era um daqueles mistérios que estava mais do que evidente aos olhos do mais básico dos homens lúcidos. Desprezo as teorias de que o “senhores de Lisboa” é que são os culpados, que as grandes empresas que compram espaços de publicidade e fazem sobreviver os jornais estão todas na capital. A morte lenta do “Janeiro” vai continuar, mesmo se o título regressar à vida. Não é lavando a cara e deixando tudo o resto na mesma que se ganha vitalidade.

O “Janeiro” afunda-se nas mesmas águas em que se afunda o Porto: falta de auto-estima e de força para se renovar, ausência de massa crítica e espírito empreendedor. Não sair da caverna do passado e passar a olhar a realidade do mundo de hoje, vibrante lá fora, tão diferente e tão mais complexo.

É a China, estúpido!

Só num mundo muito distraído e inclinado sobre o seu umbigo é que isto é notícia que surpreenda. Afinal a globalização parece que só serve para acenar com umas bandeiras do Tibete e tentar apagar uma mediática chama olímpica...

O acordar é lento e a "remela" matinal não desaparece de um dia para o outro. Nem se lava com a água olímpica.